A
religião assume uma face moderna e cresce entre os jovens de classe
média. Maior país espírita do mundo, o Brasil já exporta a Doutrina para
os Estados Unidos
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A top model Raica Oliveira, de 22
anos, foi criada na religião espírita. Nascida em Niterói, mora hoje a
maior parte do tempo do ano em Nova York por conta dos compromissos
profissionais. Quando está nos Estados Unidos, Raica vai ao centro Casa
São José na cidade vizinha de New Jersey, frequentado por brasileiros
como Divaldo Pereira Franco e Raul Teixeira - considerados médiuns pelos
adeptos da doutrina.
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Raica, Raul e Divaldo são, segundo uma reportagem publicada recentemente no jornal americano The New York Times,
as faces visíveis de um novo fenômeno: a abertura de centros espíritas
nos Estados Unidos dirigidos por brasileiros, frequentados pela
comunidade latina e também por americanos. O Brasil não é apenas o maior
país católico do mundo. É também a nação com maior número de espíritas,
cerca de 20 milhões de pessoas, segundo os números oficiais. E, agora,
tornou-se também o principal pólo difusor da religião fundada e
sistematizada pelo francês Allan Kardec.
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Os Espíritas têm renda familiar 150% superior à média nacional
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Quais as características desse
Espiritismo que o Brasil professa e exporta ? Pode-se dizer que o rosto
de Raica, uma das mulheres mais bonitas do país, é a face-símbolo de uma
nova fase na religião. Esqueça os copos que se movimentam sozinhos
sobre a mesa branca, as operações com canivete e sem anestesia do médium
Zé Arigó e as sessões de exorcismo coletivo transmitidas pelo rádio.
Isso tudo ainda existe, mas o crescimento e a exportação da doutrina se
devem principalmente a seu lado menos místico e mais racional.
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Esse
"novo Espiritismo" preserva os pilares básicos da religião: a
imortalidade do Espírito, sua reencarnação e evolução, além da
possibilidade de comunicação entre vivos e mortos, mas se baseia muito
mais em leituras e na introspecção que em rituais ou sessões que invocam
supostas forças do além. São incentivadas também as duas práticas mais
fortes da doutrina: a caridade e a tolerância religiosa.
O
Espiritismo vem crescendo no Brasil, principalmente entre jovens de
classe média. No site de relacionamentos Orkut, já existem 366
comunidades sobre "espiritismo" e outras 808 quando se busca a
palavra-chave "espírita". A maior delas se chama simplesmente
Espiritismo. Tem 183.546 membros. Lá as discussões variam desde assuntos
simples, como o lançamento de um livro, até questões teóricas mais
elaboradas, como a relação entre espíritos e a Física Quântica.
Curiosamente, a palavra "catolicismo" registra apenas 34 comunidades, e
"católico 421.
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77% dos espíritas têm entre oito e 15 anos de estudo, em média dez anos a mais que os católicos
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O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística calcula que a doutrina espírita tem 20 milhões de adeptos no
Brasil, afora os que professam o Espiritismo como segunda religião. A
doutrina cresceu 40% entre os últimos dois censos. Os dados do IBGE
mostram que esse crescimento se deu principalmente nos estratos mais
ricos e escolarizados da população. A Renda dos Espíritas é 150%
superior à média nacional, e 52% deles ganha acima de 5 salários
mínimos. Entre os espíritas, 77% têm entre oito e 15 anos de
escolaridade, dez anos em média a mais que os católicos.
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Além
de Raica de Oliveira, outras celebridades vêm aderindo ao Espiritismo,
embora poucas alardeiem professar a crença. Boa parte prefere tratar o
assunto como algo privado. É o caso da atriz Cleo Pires, que herdou a fé
do seu pai, o cantor Fábio Júnior, e dos avós maternos.
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O tenista Gustavo Kuerten se submeteu a
um tratamento espírita, levado por seu fisioterapeuta, Nilton Petrone -
o mesmo de Xuxa e Romário.
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Sofrendo de dores nos quadris que o
derrubaram do primeiro para o 452º lugar no ranking do esporte, Guga,
aos 29 anos, recorreu a um tratamento espiritual no Lar do Frei Luiz,
centro espírita da zona oeste do Rio. "Foi minha primeira experiência
com o Espiritismo. Estou mais calmo e equilibrado.", disse Guga à Época.
Tecnicamente, o tratamento, ocorrido no dia 10 de junho, não foi uma
cirurgia, pois não houve cortes. Guga seguiu o procedimento-padrão do
centro. Primeiro, ficou mais de uma hora na sala de orações, com mais de
50 pessoas. Depois, foi com um pequeno grupo para uma sala escura. "O
tratamento espiritual não substitui a fisioterapia, apenas a
complementa", diz Nilton Petrone.
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O novo Espiritismo que atrai gente como Raika ou Guga engendrou algo que se pode chamar de "Cultura Espírita".
É
natural, numa religião em que a leitura prevalece cada vez mais sobre o
virtual, que a faceta mais visível dessa cultura sejam os livros. Vários
deles atingiram a lista dos best-sellers. Sozinho, o mineiro Chico
Xavier, morto em julho de 2002 e considerado o maior dos médiuns pelos
adeptos da religião, vendeu (e ainda vende) 25 milhões de exemplares de
seus mais de 400 livros, todos supostamente psicografados.
Zibia Gasparetto, de 78 anos, já vendeu 5 milhões de exemplares de
obras que afirma ter psicografado. Há dez anos não sai da lista dos dez
bet-sellers nacionais. Outro sucesso nas livrarias foi a coletânea de
entrevistas Encontro com Médiuns Notáveis, escrita pelo músico e
pesquisador Waldemar Falcão. O jornalista Marcel Souto Maior chegou à
casa dos 300 mil exemplares nos últimos dez anos, desde que lançou a
biografia As Vidas de Chico Xavier. O livro vai servir de base para um
filme, com direção de Daniel Filho e lançamento previsto para o ano que
vem.
A
principal característica da cultura espírita é que ela ultrapassa os
adeptos da doutrina e até aqueles que têm o Espiritismo como segunda
religião. Para além dos livros que fazem sucesso com os leitores de
todas as crenças, os programas de televisão que tratam do assunto sempre
conseguem uma larga audiência. Trasmitida até o início deste ano, a
novela Alma Gêmea, da TV Globo, teve o melhor Ibope do horário das 6 na
última década, impulsionada por uma história de reencarnação. Quando o
folhetim foi ao ar, a Globo fez uma pesquisa qualitativa para saber a
aceitação do tema entre os espectadores. Mesmo os que não eram espíritas
aprovaram enfaticamente a trama e os personagens. Quando terminar sinhá
moça, que está no ar com resultados inferiores aos de Alma Gêmea,
entrará no ar O Profeta. Nova versão da novela de Ivani Ribeiro dos anos
70, na Tupi. a trama gira em torno de espiritismo e mediunidade. Na
nova versão de O Profeta, o protagonista será interpretado pelo ator
Thiago Fragoso. "O telespectador gosta de assuntos que o levem a pensar
sobre o que somos, para onde iremos", diz Walcyr Carrasco, autor de Alma
Gêmea e supervisor da adaptação de O Profeta.
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A atriz Cleo Pires chegou ao Espiritismo por influência do pai, Fábio Junior, e dos avós maternos
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O diretor-geral do programa Linha
Direta, da TV Globo, Milton Ubirached, diz que se assustou com a
repercussão dos episódios que tocaram no tema do Espiritismo. "No ano
passado, a história sobre cartas psicografadas de 13 mortos do Edifício
Joelma (Prédio Paulista que pegou fogo em 1974 e deixou 189 mortos)
deu 30 pontos de audiência à meia-noite", afirma. Em julho, de olho na
curiosidade do público, esse episódios serão reunidos em DVD. Outro
programa da série que conseguiu boa audiência relatando um caso curioso.
No fim de maio, no município gaúcho de Viamão, região metropolitana de
Porto Alegre, uma carta supostamente ditada por um morto ajudou na
absolvição da ré Iara Barcelos, de 63 anos, acusada de ser mandante de
um crime. O juri ficou sensibilizado pela mensagem, que seria da vítima,
o tabelião Ercy da Silva Cardoso. Na carta Ercy afimava a inocência de
Yara.
A Cultura Espírita ja chegou aos Estados Unidos. Filmes arrasa-quarteirão como Ghost,
de 1990, já mostravam o apelo de temas como a comunicação entre vivos e
mortos. Agora, começa a fazer sucesso na televisão americana a série Médium.
Nela, uma mulher psicografa mensagens que ajudam a desvendar crimes. A
protagonista da série é baseada em uma personagem real, a americana
Allison Dubois, cujo livro Não é preciso dizer adeus acaba de ser lançado no Brasil. Citado na reportagem de The New York Times,
o espírita Divaldo Pereira Franco, de 79 anos, acredita no crescimento
da doutrina nos Estados Unidos, onde começou a fazer palestras em 1962.
"Em minha última palestra, em Baltimore, 70% da platéia era de
americanos", diz Franco. Em Nova York foram criados dez centros
espíritas na últtima década. Em New Jersey, mais seis.
O que explica a adesão crescente da
classe média ao Espiritismo ? Quem responde é o sociólogo Flávio
Pierucci, na Universidade de São Paulo. autor de A Realidade Social das Religiões no Brasil:
"O Espiritismo é uma religião confortável. Ela suavisa o drama da morte
e dá respostas lógicas ao que acontece de bom ou de ruim. Sem falar que
podemos levar créditos ou débitos para outras vidas".
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Piericci considera que há três razões pelas quais "o novo Espiritismo" atrai tantos adeptos entre a classe média:
- A Doutrina Espírita se baseia num conjunto de idéias muito bem sistematizado e, portanto, passível de aceitação nacional.
- Ela é flexível e acolhe gente de todas as religiões.
- A forma original da religião fundada por Kardec de lidar com a questão da morte.
Para entender cada um desses motivos, é preciso fazer um breve histórico da religião espírita.
As
idéias que alicerçam o Espiritismo foram sistematizadas pelo francês
Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon em 1804. Ele passaria
para a história sob o pseudônimo de Allan Kardec - que seria o nome de
um druida, supostamente sua encarnação anterior-. Nascido em uma família
de magistrados católicos, ele decidiu seguir também o caminho da
educação e sempre lutou pela democratização do ensino público na França.
Em 1854, kardec se interessou pelo fenômeno então conhecido como "mesa
giratória". Nos salões elegantes, após os saraus, gente da alta
sociedade costumava se sentar em torno dessas mesas para, segundo
acreditavam, dialogar com os espíritos. Utilizando recursos supostamente
mediúnicos dos presentes, as entidades desencarnadas se manifestariam.
Segundo os historiadores, o fenômeno foi a coqueluche da sociedade
francesa de 1853 a 1855. Os eventos das mesas giratórias ganharam
dezenas de reportagens dos jornais europeus.
Kardec
mergulhou nesse universo por três anos, até estruturar uma doutrina
que, segundo ele, unia os conhecimentos científico, filosófico e
religioso. Ele escreveu sua obra básica, O Livro dos Espíritos,
em 1857. O livro é resultado dos diálogos que Kardec afirma ter
estabelecido com os espíritos desencarnados nas diversas reuniões
mediúnicas de que participou. Kardec não dizia ser médium. Afirmava
valer-se de um método científico para conferir a veracidade dos
diálogos. Dizia ouvir a voz de diferentes espíritos por meio de
diferentes médiuns para cotejar as versões. A obra se estutura em 1.019
tópicos, no estilo pergunta e resposta. O Livro dos Espíritos serviu de base para mais quatro obras de Kardec: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.
Como há outras religiões espiritualistas - que creêm na vida além da
matéria -, criou-se a expressão "Kardecismo" para diferenciar a doutrina
de Kardec das outras. O termo, porém, é considerado errôneo pela
Federação Espírita Brasileira (FEB). Chamar o espiritismo de kardecismo é
considerado uma redundância. Kardec morreu em 1869, aos 64 anos, e seus
livros estão para o Espiritismo como o Novo Testamento para os
cristãos, a Torá para os judeus e o Alcorão para os mulçumanos.
Quando
Kardec codificou sua doutrina, deu-lhe um revestimento científico. É
essa roupagem racional o primeiro motivo para o sucesso do Espiritismo
no mundo moderno.
"Razão
e fé não estão em polos opostos. Cremos em algo lógico, não místico",
diz o presidente da Federação Espírita Brasileira, Nelson Masotti.
"Seria
difícil seguir uma religião que não estimula a discussão e o
conhecimento", diz o engenheiro carioca Ricardo Danziger, de 47 anos,
filho de mãe católica, e pai judeu. Toda a sua família - a mulher, Ana
Cristina, e os filhos adolescentes, Ricardo e Júlia - professa a
religião espírita e frequentam o mesmo centro, o Lar Teresa, no bairro
carioca de Copacabana.
Ao
contrário do que se possa imaginar, quem entra num centro espírita não
vai encontrar médiuns se contorcendo ou sessões de exorcismo coletivo.
Centros espíritas são, mais que tudo, espaços de leitura, discussão e
prece. Nas reuniões dos espíritas, normalmente há primeiro uma leitura
de um dos livros de Kardec. Depois uma palestra em que o participante do
centro apresenta suas interpretações sobre algum ponto da doutrina. Por
fim, há o passe, momento em que o médium (não necessariamente
incorporado) diz trocar energia com os presentes. Ao fundo, oração
coletiva e, em muitos casos, luz mais fraca.
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Raul Teixeira é considerado pelos espíritas um dos maiores médiuns brasileiros.
"Quem se degladia
com outras religiões mostra falta de maturidade na fé. Quem não crê o
suficiente tenta convencer os outros para convercer a si próprio", diz.
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A
segunda razão para o crescimento do Espiritismo é a flexibilidade da
doutrina. Avessos a fundamentalismos, hierarquias, sacerdotes, altares e
ídolos, os espíritas acolhem pessoas de todas as religiões. Não há
exigências na atitude, no vestuário ou cobrança financeira. Adeptos de
outras religiões costumam se envolver com o Espiritismo sem
necessariamente abandonar as crenças originais. "Somos avessos ao
fundamentalismo. Dai ser tão importante o estudo e a leitura", afirma o
carioca Raul Teixeira, considerado pela Federação Espírita Brasileira um
dos maiores médiuns do país.
Uma
pesquisa realizada pela Federação Espírita Brasileira em São Paulo e no
Rio Grande do Sul mostra que apenas um em cada quatro frequentadores de
centros se considera oficialmente espírita. "Não temos dogmas, santos,
hierarquia. Há respeito por todas as crenças", diz o economista carioca
André Menezes Cortes, de 36 anos. nascido em uma família católica, hoje
ele é adepto da doutrina de Kardec.
A
terceira e principal razão para que o Espiritismo tenha tantos adeptos é
a maneira como a religião fundada por Kardec lida com a questão da
morte. Para os espíritas, ela não é o fim de tudo. É possivel ter outras
vidas e nelas resolver assuntos pendentes de encarnações passadas. É
algo semelhante ao que os budistas costumam chamar de carma, uma espécie
de "preço" para nas diversas vidas rumo à evolução espiritual. Para
outros cristãos, a vida é uma chance única: resolva tudo agora e salvará
sua alma - ou arderá no inferno. O Budismo e o induismo admitem a
reencarnação. Só o Espiritismo, no entanto, diz possibilitar a
comunicação entre "encarnados" e "desencarnados". Segundo os espíritas, é
possível trocar mensagens orais ou escritas por meio dos médiuns -
pessoas que funcionam como antenas entre os dois mundos.
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O economista
carioca André Menezes Cortes, de 36 anos, nasceu numa família católica.
Hoje se diz espírita. "Não temos dogmas, santos, hierarquia, e há
respeito por todas as crenças", afirma.
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Chico
Xavier foi o maior deles. Escreveu mais de 400 livros. Mulato pobre,
nascido em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais, Chico foi
perseguido e investigado desde os anos 30, quando sua fama se alastrou
pelo país. Nessa época, ele dizia psicografar textos de escritores e
poetas mortos, que guardavam, para espanto geral, incrível semelhança
com o estilo original. nas décadas que se seguiram, Chico se tornou
referência no mundo do Espiritismo. Isso resultou em verdadeiras
romarias a sua casa, em Uberaba, em Minas, para onde se mudou em 1959 e
onde morou até morrer, aos 92 anos, em 2002.
As
obras de Chico Xavier trouxeram imenso consolo ao taxista carioca
Gilberto da Silva Netto, de 65 anos. Há algumas semanas, as noites de
Gilberto tem sido dedicadas à leitura de Jovens no Além,
escrito por Chico Xavier em 1975. O livro tras mensagens supostamente
psicografadas por pessoas que perderam a vida cedo, em circunstâncias
trágicas. Gilberto é pai de Rodrigo, o Nettinho, guitarrista da banda
Detonautas, assassinado num assalto no início de junho no Rio. Católico
de formação. Gilberto se define como cético sobre qualquer religião. Mas
diz ter se aproximado do espiritismo em busca de respostas.
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Chico Xavier é
uma referência para os espíritas do mundo inteiro. Sua imensa
popularidade é uma das razões do crescimento do espiritismo no Brasil.
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"Quero acreditar que meu filho está
bem, em algum lugar", diz o taxista. Ele também perdeu a mãe de seus
filhos, de câncer, há mais de 20 anos. Sua atual mulher, a professora
Eliane Perez, que criou Rodrigo desde os 9 anos, é espírita desde jovem e
procura acalmar a família depois da tragédia. "Tenho explicado a todos
que nada é por acaso. E que algum dia vamos todos nos reencontrar, de
alguma maneira", afirma Eliane.
A presença do Espiritismo na cultura
brasileira vem de longe. Pode-se dizer que dois conjuntos de idéias
originalmente francesas - o Espiritismo e o positivismo, de onde
herdamos o lema "Ordem e Progresso" - encontraram solo fértil no Brasil
francólico da virada do século XIX para o XX. Nessa época, o jornalista
João do Rio - um adepto do estilo de jornalismo literário que nos anos
60 viria a ser chamado de "new jornalism" pela geração de Tom Wolf e Gay
Talese - registrou o frison em torno do Espiritismo em seu livro As Religiões do Rio.
"Nas rodas mais elegantes, entre os sportsmen inteligentes, lavra o
desespero das comunicações espíritas, como em Paris o automobilismo",
escreveu João do Rio em um livro em 1904 que acaba de ser relançado no
Brasil.
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A doutrina de Kardec chegou ao Brasil logo depois de ter sido divulgada no Livro dos Espíritos, por meio de um grupo de franceses que moravam no Rio, então capital do Império.
Foi rapidamente absorvida por uma elite. Com o tempo, começaram as
primeiras repercussões de supostos eventos mediúnicos e tratamentos
espirituais. A partir de 1890, um movimento liderado por médicos,
apoiados por juristas, resultou em perseguição ao Espiritismo. "De certa
forma, naquele momento a doutrina concorria com a medicina", diz a
antropóloga Sandra Stohl, autora do livro Espiritismo à Brasileira, baseado em sua tese na Universidade de São Paulo.
Foi o
médico Adolfo Bezerra de Menezes, na primeira metade do século XX, quem
deslocou o foco da doutrina da ciência para a caridade. Essa ênfase se
tornou uma característica marcante do espiritismo brasileiro. Estima-se
que meio milhão de pessoas no país recebam ajuda de alguma entidade
espírita. A própria Federação Espírita Brasileira iniciou um trabalho
social em 1884, ano de sua fundação. Hoje ela dá assistência a
aproximadamente mil famílias, além de manter uma creche para 800
crianças na cidade de Santo Antônio do Descoberto, em Goiás.
As
Casas André Luiz, de São Paulo, atendem pacientes com problemas de saúde
mental - 630 em regime de alojamento e 800 em regime ambulatorial -. A
assistência se estende à familia do doente, já que quase todos os
pacientes são muito pobres. Divaldo Pereira Franco, aquele que também
atua nos Estados Unidos, mantém em Salvador a Mansão do Caminho. Desde
1947, a entidade já prestou atendimento médico e odontológico a mais de
30 mil pessoas. Vivemos num mundo cada vez mais competitivo, em que
muitas vezes a caridade é deixada em segundo plano. A época atual é
também de recrudescimento de fundamentalismos que sufocam a liberdade
religiosa. Num tempo assim, a acolhida cada vez maior da mensagem
espírita, fundamentada na tolerância e solidariedade, é um fato a
comemorar.
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"Seria difícil
seguir uma religião que não estimula a discussão e o conhecimento", diz o
engenheiro carioca Ricardo Danziger, de 47 anos. Sua mulher, Ana, e os
filhos, Ricardo e Júlia, também são espíritas.
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Preocupe-se mais com seu caráter, do que com sua reputação, porque
caráter é o que você realmente é, enquanto que reputação é apenas o que
os outros pensam (ou dizem) que voce é". J. Wooden
A compreensão pede realidade,
tanto quanto a realidade pede compreensão.
Sejamos, pois, verdadeiros, mas sejamos bons.
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